
O que é deflação e como pode afetar a economia
Entenda o que é deflação e como este conceito é relevante para economistas do mundo inteiro. Tudo o que você precisa saber sobre o que é deflação com exemplos.
Mesmo um remédio, se tomado em excesso pode ser prejudicial e tornar-se em veneno, até matando o paciente. Você certamente já ouviu alguma versão deste ditado popular, ou algo do tipo "tudo o que é demais é ruim".
No post de hoje, vamos falar sobre o que é deflação, um termo técnico e amplamente discutido por várias vertentes econômicas, mas que tem um impacto prático e real na vida da população quando este fenômeno ocorre.
O primeiro ponto que deve ficar claro desde o início é que não existe uma definição única sobre a fórmula para calcular a deflação. Por exemplo, no caso de uma recessão, existe um consenso entre a maioria dos economistas que se o PIB de um país for negativo durante dois trimestres consecutivos, a economia está oficialmente em estado de recessão.
Como o PIB de qualquer país é um valor mensurável, analisado e pesquisado amplamente, é fácil definir este conceito, embora alguns políticos tentem usar a oratória para não admitir o termo recessão, já que isto é visto como algo prejudicial.
O que é deflação
Podemos dizer que deflação é uma queda geral nos preços de produtos ou serviços por um período prolongado e contínuo. Explicado desta forma, o processo parece fácil de entender, mas as coisas não são tão simples, como veremos a seguir.
O problema é que se analisarmos dados históricos sobre a economia de um país, fica mais fácil identificar períodos de deflação, mas quando estamos tentando entender o presente, as coisas parecem menos claras, uma vez que não existe uma definição fixa sobre o tamanho da queda de preços, nem o período de tempo mínimo que deve durar este processo para ser decretado que uma economia está em deflação.
Duas palavras devem ser destacadas neste conceito. Em primeiro lugar, a redução de preços deve ser generalizada. Se o preço dos combustíveis cair, mas o valor dos alimentos continuar estável ou aumentar, não podemos dizer que o país está em deflação.
Este processo ocorreu por exemplo no início do segundo semestre de 2022. Para tentar frear o aumento do preço de combustíveis, o governo conseguiu fazer um acordo político e reduziu temporariamente o imposto sobre os combustíveis em todo o país.
Com o imposto reduzido pela metade, o preço dos combustíveis caiu drasticamente. A queda no custo de energia também ajudou a criar um cenário mais favorável que teve um efeito imediato sobre a economia do Brasil.
No entanto, este não foi um processo natural de redução de preços gerado por menos demanda no mercado e sim algo feito quase que a força, em um ano eleitoral e de curta duração.
Em julho de 2022, o IPCA apresentou números negativos, demonstrando claramente que a redução de impostos estava tendo um impacto geral no mercado. O indicador recuou 0,61% naquele mês, puxado principalmente pela redução do preço de combustíveis e energia.
Desde que o plano Real foi lançado em 1994, o IPCA só ficou negativo por três meses consecutivos entre julho e setembro de 1998. Mesmo assim, a maioria dos economistas concorda que este não foi um período de deflação, mas sim uma desaceleração temporária da economia, ou o que é chamado de desinflação.
O que é deflação e por que a inflação assusta mais?
De um modo geral, o termo inflação é mais assustador, por um motivo muito simples - temos muito mais episódios de inflação na história, inclusive no Brasil.
Quando algo impactante ocorreu recentemente e afetou a vida de milhões de pessoas, é fácil ter uma referência mais próxima e por isso uma compreensão maior de como este evento pode afetar as pessoas.
Dependendo da sua idade, você viveu o último grande período de inflação no Brasil ou já ouviu pessoas mais velhas contando como era ir ao mercado e correr para comprar os produtos antes que fossem remarcados com preços maiores.
O que é inflação. A inflação é um aumento constante nos preços de produtos ou serviços. Isto começa a diminuir o poder de compra do cidadão, que precisa tentar ganhar mais dinheiro para manter seu mesmo padrão econômico ou terá que abrir mão de certos produtos ou serviços que sempre comprava.
É só abrir as páginas de jornais internacionais e você encontrará países que estão passando por este processo. Na América Latina, a Venezuela, por exemplo, enfrenta anos de inflação, o dinheiro não tem nenhum valor e a maioria da população tem muita dificuldade até mesmo para comprar os produtos mais básicos.
Mas embora a inflação realmente seja assustadora, se um país entrar em um processo de deflação por um período maior, as consequências também podem ser terríveis e gerar o mesmo tipo de instabilidade econômica.
O que é deflação e por que é algo negativo?
Por motivos óbvios, a inflação tem o poder de destruir a economia de um país, gerar fome, aumentar a violência, além de provocar uma corrida por imigração para locais menos instáveis economicamente.
No entanto, a deflação também pode ser tão ou até mais devastadora, dependendo de como o processo ocorrer e do que for feito pelo governo para tentar resolver o problema.
Quando um cliente entra em uma loja ou mercado para comprar um produto e descobre que o preço está menor do que o valor que ele havia pago anteriormente, a primeira reação é de alegria. Afinal, ele poderá comprar mais coisas com menos dinheiro.
No entanto, um comerciante só irá reduzir o preço de um produto temporariamente para fazer uma promoção, ou de maneira mais ampla se houver menos demanda.
Esta é uma das leis do capitalismo, a oferta e a demanda por um produto irão ditar seu preço final. Quando um produto começa a se tornar escasso, seu preço vai aumentando proporcionalmente.
Se pegarmos por exemplo o preço do barril de petróleo, podemos ter uma dimensão clara de como isto ocorre e como afeta a economia global. Vários países exportadores de petróleo teriam equipamento e condições de extrair muito mais petróleo por dia do que o fazem.
Além disso, mesmo quando o produto é extraído, ele fica armazenado e é vendido aos poucos, geralmente em uma quantidade prefixada de barris por dia. Se os países começassem a aumentar a extração ou exportação de petróleo, haveria mais produto disponível no mercado, o que faria com que o preço do barril caísse.
Esta questão é tão séria, que existe um acordo entre países que exportam este produto, através da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), uma espécie de associação entre países para regular o preço do barril de petróleo no mundo.
Quando o preço do barril começa a cair muito, todos os membros desta organização reduzem a venda do produto, com o objetivo de segurar os preços em níveis aceitáveis.
Mas no caso de outros produtos, uma empresa irá reduzir os preços quando existe uma quantidade muito grande de itens similares no mercado. Esta redução de preços é prejudicial para toda a cadeia produtiva. O fabricante ou vendedor do primário do produto irá ganhar menos. Os revendedores também terão menos lucros, uma vez que o produto está custando menos.
Se as coisas parassem nesta parte do processo, tudo estaria maravilhosamente bem. Mas os fabricantes que estão ganhando menos dinheiro terão que começar a reduzir os custos de alguma forma, além de produzir menos, terão que começar a demitir funcionários.
O trabalhador que é demitido não terá mais dinheiro para comprar produtos, seja este, ou outras categorias disponíveis no comércio. Assim, mais e mais produtos começam a sobrar e mais e mais vendedores tem que reduzir seu preço, gerando um círculo vicioso terrível para toda a economia.
Se o cidadão está desempregado, podem haver inúmeros produtos sendo vendidos por preços quase que irrisórios, ele não terá dinheiro suficiente para comprá-los e estará preocupado apenas em não morrer de fome.
O que é deflação - exemplo real
Vamos tentar entender o que é deflação através de um exemplo muito citado em aulas de história sobre o século XX, porque teve consequências terríveis para o mundo durante vários anos.
Em 1929, a Bolsa de Valores de Nova York quebrou, afetando negativamente os investimentos de muitas empresas dos Estados Unidos. A quebra da Bolsa começou a gerar uma crise que se espalhou pelo mundo inteiro e atingiu muito fortemente a Europa, além de países de outros continentes, inclusive o Brasil.
Esta crise ajudou a produzir um período que ficou historicamente conhecido como a Grande Depressão dos anos 30, uma época tenebrosa para o país.
Durante estes anos, a população não tinha dinheiro para comprar produtos, as colheitas apodreciam no campo, pois para os produtores, pagar pessoal para trabalhar nas lavouras e pomares não valia a pena; além de não terem dinheiro para pagar pelo trabalho, não haviam compradores com poder suficiente para adquirir os produtos.
Foram anos terríveis para o país, muita gente migrou do campo para as cidades, o PIB dos EUA encolheu mais de 30%, o desemprego chegou a 20% e a fome aumentou muito.
Na Europa, onde muitos países ainda estavam enfrentando as consequências da primeira guerra mundial, a Alemanha, que pagava uma dívida vultuosa em danos pela guerra entrou em uma fase de desvalorização da moeda e fome tão terrível que acabou facilitando o acesso ao poder do nazismo, com todas as consequências terríveis que advieram deste fato.
O que é deflação - recuperação econômica
Hoje em dia, os bancos centrais já tem mecanismos para combater a desaceleração da economia, mas na época da Grande Depressão, os Estados Unidos levaram anos para se Recuperar.
A forma que Franklin Delano Roosevelt, um dos presidentes mais famosos dos Estados Unidos, encontrou para tirar o país da grave crise econômica foi a adoção do que ficou conhecido como New Deal, ou Novo Acordo.
Baseado em teorias do economista britânico John Maynard Keynes, o país passou a investir em políticas de proteção social e estímulos para tentar fazer a economia girar, aumentando a exportação e fazendo principalmente com que mais pessoas conseguissem emprego.
Neste sentido, foram feitas inúmeras obras públicas de grande porte, como a construção de rodovias e hidrelétricas, pois mais gente trabalhando e recebendo significava mais dinheiro em circulação no país.
O Japão é outro país que já enfrentou vários períodos prolongados de deflação. Mas neste caso, o problema está enraizado na cultura local, de gastar o mínimo possível e poupar dinheiro para o futuro. Quando isto ocorre de maneira sistêmica, existe menos procura por produtos ou serviços que não são considerados essenciais, causando efeitos desastrosos para a economia.
Já no Brasil, onde historicamente sofremos muito mais com a inflação, durante os anos 30 o governo precisou interferir fortemente na economia, pois o período de deflação foi tão agressivo que afetou a venda do café, o produto mais importante para o país naquela época.
O problema se tornou tão relevante que o governo do presidente Getulio Vargas teve que comprar e queimar milhões de sacas de café, para que os produtores recebessem algo pelo produto e a quantidade diminuisse o suficiente para frear a redução dos preços.
O que é deflação e como é detectada
O problema afetou tanto a economia nos últimos dois séculos que os países adotaram vários mecanismos para monitorar o desempenho dos preços e entender como seu aumento ou redução estão afetando a população.
No Brasil, este processo é feito através do IPCA (índice de preços ao consumidor amplo). O IPCA é medido mensalmente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) desde 1979 e visa acompanhar as alterações dos preços de uma sesta de produtos e serviços em várias cidades do país.
O IPCA acompanha o poder de compra de famílias com renda entre 1 e 40 salários mínimos, para entender como as diferentes classes sociais estão enfrentando as alterações de preços.
Sempre que alterações constantes são detectadas, o governo e o banco central precisam agir, para evitar que a crise se alastre e o problema afete cada vez mais a população, uma vez que os mais vulneráveis tem menos proteção e por isso são atingidos primeiro por qualquer crise.
Existem outros indicadores que acompanham o desempenho da economia do país, mas o IPCA é o mais importante. Este índice é usado como referência para vários projetos governamentais. Além disso, serve como base para calcular a rentabilidade de diferentes tipos de investimentos, como veremos a seguir.
Como a deflação pode ser controlada
Agora que já explicamos o que é deflação, será necessário falar um pouco sobre como este processo pode ser freado, uma vez que se não for controlada, as consequências podem ser duradouras, como vimos nos exemplos deste artigo.
Para o mercado, quando empreendedores detectam que existe pouca demanda por produtos ou serviços, começa não fazer sentido investir em políticas de expansão e contratação de pessoal.
Basicamente, porque para que uma lavoura seja plantada, uma nova fábrica seja criada ou um novo edifício seja construído, precisa haver interesse na compra dos produtos ou serviços que serão oferecidos ao mercado.
Se um empresário sabe que terá dificuldades em gerar dinheiro com o seu empreendimento, é provável que aguarde para investir no futuro, em condições comerciais mais favoráveis.
Isto irá desacelerar o crescimento econômico, diminuir o emprego e a deflação irá se agravar cada vez mais. Por isso, o banco central precisa ter mecanismos de controle e intervenção neste processo.
A forma mais eficaz de fazer isto, de acordo com a maioria dos economistas, é interferindo nos investimentos em renda fixa e nos juros pagos para quem deixar o dinheiro parado.
Ninguém gasta dinheiro sem necessidade. Se um empreendedor irá ganhar quase a mesma coisa ao aplicar o dinheiro no mercado financeiro do que receberia ao construir um projeto, que pode dar certo, mas implica em riscos, obviamente ele irá optar por deixar o dinheiro investido.
Por isso, ao detectar que a economia está desacelerando e entrando em um período de deflação, o banco central irá começar a reduzir as taxas de juros básicos, pois desta forma, irá valer cada vez menos a pena deixar o dinheiro investido em títulos de renda fixa.
A taxa Selic é este mecanismo de controle. Quanto mais baixa ela estiver, menos rendimentos os investidores que não aplicarem em renda variável irão receber. Como não é mais vantajoso deixar o dinheiro rendendo sozinho, os investidores precisam investir em projetos que podem trazer lucros maiores, pois o dinheiro precisa render sempre.
Quanto mais novos projetos são feitos, mais a economia é movimentada, trabalhadores são contratados para dar conta da produção, outras empresas que prestam serviços aumentam a lucratividade, gerando emprego e melhorando a renda da população.
Porém isto não pode ser feito de uma forma muito rápida, pois se a economia acelerar muito, o país irá experimentar o lado inverso do problema. Os preços começam a aumentar rapidamente, o que pode acarretar em inflação.
Por isso este processo é muito complexo, qualquer erro de cálculo poderá ter consequências para a população. Como comentamos no primeiro parágrafo do artigo, se o remédio não for usado na dose correta, o paciente irá morrer.
Esperamos que você tenha entendido o que é deflação e como ela pode afetar a economia global.
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